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domingo, 15 de dezembro de 2013

O que há


O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A sutileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas
Essas e o que falta nelas eternamente
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,

Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos

domingo, 10 de novembro de 2013

A tarada do Bom Jesus

Bom Jesus de Braga. Foto: Raphael Marinho


Há tempos que queria escrever sobre os malucos de Braga. Acho engraçado. Sei lá, uma cidade pequena com tantos malucos. Bom, mas para começar, vou falar dela: MANUELA (imaginar som e voz sensual).

Nossa história de amor, traição e sensualidade começou no início da primavera de 2012. Tudo lindo, novas possibilidades de sol e a vontade de perder os quilos do inverno me fizeram fazer caminhadas ao Bom Jesus. Aos que não conhecem o santuário de Braga, saibam que é lindo. Fica no topo de um monte e tem uma escadaria de centenas de degraus, CEN-TE-NAS, mas no final, ao chegar lá em cima, logo nos deparamos com um linda paisagem. Vê-se tudo de lá . Braga, os monte que  rodeiam a cidade e todo o restante do complexo que é o Bom Jesus que por si só, é encantador. E numa dessas idas que encontrei com ela.

Foi assim... 

Lá estava eu, sentado depois de longos e cansativos degraus. Enquanto ouvia minhas músicas, mais precisamente a última faixa do acústico MTV da  Rita Lee, que era o tempo exato da minha casa  até o Bom Jesus, e, foi quando ela sentou-se ao meu lado.

- Boa tarde!

Com um gentil sorriso retribuí :

- Boa tarde!
- És brasileiro?

Mais um sorriso e ai tirei os fones do ouvido:

- Sim.
- Logo se vê pelo sorriso, disposição...

Mais um sorriso, não como antes, mas agora aquele ar meio constrangido e acompanhado do recolocamento dos fones.

- Ah, obrigado.

Minutos de embaraço e constrangimento. Entretanto ela não desistia e a conversar ganhou um novo ar... Ousada aquela Manuela, ousada...

- Belo sorriso... brasileiros pah! Olha, é, vou eu lá no banheiro, tenho que ir ao banheiro se quiseres...

Agora o “sorriso” era com o ar de espanto, uma certa tensão e um total estranhamento. Ora, afinal toda essa história era novidade. Não sou acostumado com uma mulher como a Manu dando em cima de mim e com um convite tão indiretamente direto como aquele.
Nessa hora o sorriso já tinha ido embora, apenas os lábios ligeiramente aberto numa mistura de espanto com sei lá o que. E ela:

- Bom, logo vi, mas isso é pra si.

Um papelzinho com telefone, corações e o nome Manuela escrito em letras de forma. Foi assim, peguei, sorri e ela foi embora se despedindo com um sorriso que, segundo minha interpretação, significava um último convite.

Não fui. Peguei o papelzinho, esperei um tempo pra ela se distanciar e voltei. Tudo o que eu queria era minha casa naquele momento. E como era de se esperar,  a partir daquele dia meu relacionamento com o Bom Jesus nunca mais foi o mesmo. Fui lá outras vezes e recentemente encontrei como ela novamente. Dessa vez, a interação foi menos intensa e constrangedora na mesma.

O que eu esqueci de mencionar é que Manuela, ou Manu, como eu a chamo, é uma senhora de uns 60 e tantos anos. E pelo o que me consta, não fui a única vitima daquela sedutora mulher de terceira idade, outras pessoas, inclusive amigos – sim amigos, ela foi capaz de cantar meus amigos. Como ela pôde? Traidora - foram vítimas das palavras de encantamento daquela sex machine with experience.

E é assim foi... a história daquele dia que mudou a minha vida. 

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Os agradecimentos


 “I’d like to do a song of great social and political import”, Janis Joplin.

Não há como fugir do cliché de dizer que um trabalho como este não foi feito por uma única pessoa, apesar de ter sido eu que o escrevi. Mesmo tendo a certeza que foi um trabalho resultado de um coletivo, fica impossível neste espaço falar de todas as pessoas que contribuíram e muito menos expressar meus sentimentos de gratidão.

Mas seria impossível deixar de agradecer a Professora Helena Sousa, minha orientadora, que desde o início demonstrou apoio ao meu estudo, contribuindo grandemente para o amadurecimento reflexivo das coisas que acredito e que vão muito além das teorias estudas na academia. Bem como, o Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, que é composto por um excelente corpo docente e uma forma de trabalho com a qual tive identificação desde os primeiros dias aqui.

Dentro desse Instituto não há também como não falar da equipe de investigadores do projeto  “A Regulação dos Media em Portugal: o Caso da ERC”, que diretamente, com conversas casuais e formais, e indiretamente com o acervo bibliográfico produzido por eles, ajudaram em todo o processo de escrita desta dissertação. Além da Professora Helena Sousa, que coordena o projeto, um agradecimento especial para meus amigos Sergio Denicoli e Marta Eusébio que foram especiais contribuintes neste trabalho.

E esses dois anos longe de casa, só aumentaram a minha admiração, respeito e amizade por minha família. Por isso, obviamente quero agradecer aos meus melhores amigos, que por coincidência são meu pai, Carlos Alberto; minha mãe Raquel Marinho; e meu irmão Rangel Marinho. Mas não poderia deixar de falar dos meus tios, intercessores e amigos, Nubia e Eliel Pereira, meus irmão de fé que me ajudaram com suas orações de força e sabedoria durante todo esse não tão fácil esse período.

Curiosamente tenho muitos amigos e sem eles seria impossível fazer qualquer coisa que seja. Então queria agradecer imensamente aos corações incríveis que encontrei em Portugal, que se tornaram parte fundamental da minha vida e foram e sem dúvidas, pilares de carinho, sabedoria e não enlouquecimento. Não vou citar nomes para não cometer injustiça, mas tenho a certeza que ao lerem cada um se identificará e muitas boas histórias e risadas virão a toma.

Não poderia deixar de agradecer também aos meus amigos que ficaram no Brasil, ou que estão em algum outro canto do mundo. Mesmo com a distância tenho certeza que torceram por mim e foram fundamentais nesse processo, por isso sou eternamente grato pelo companheirismo e amizade de cada um.

Por último e não menos importante, sinto a necessidade de agradecer a cidade de Braga e a esse incrível país que é Portugal. Fui muito bem acolhido e respeitado por esse país de grandes riquezas culturais, gastrómicas e com uma linda capacidade de receber todos os estudantes que para cá vem. Obrigado por tudo.

A música (que óbvio não está lá):


quinta-feira, 3 de outubro de 2013

2 anos por aqui


03 de Outubro, uma data que vai ficar em definitivo na minha memória, um marco de muitas mudanças. Na bagagem? Levo certamente uma outra vida, outros paradigmas e novos pensamentos. Em 2011, nesse mesmo dia chegava à Braga. Com muitas perspectivas para o mundo universitário e sem a mínima dimensão do que seria mudar de cidade por dois anos. E o que aconteceu? UMA CONFUSÃO. Sim, foi o que aconteceu na minha vida desde que cheguei aqui.

No mundo universitário nada de muito inovador aconteceu. Assisti aulas, fui à seminários, fiz contatos, escrevi artigos, participei de um projeto muito legal e o instituto do qual faço parte tem tudo o que eu precisava e de certa forma esperava. Assim como a própia universidade que faço parte, não tem do que reclamar. A Universidade do Minho tem excelentes refeitórios, a biblioteca tem um mundo de livros de múltiplas áreas, tem uma vista linda para os principais pontos turísticos e até a academia/ginásio me conquistou.

Mas o real fator de mudanças e o que me encantou, esteve no turbilhão de sentimentos que são recorrentes, acho eu, para quem ta em outro país. É como se fosse um outro mundo e em Braga que é uma cidade universitária existem peculiaridades fantásticas. São constantes encontros e despedidas que acrescentam alegria e levam pedaços. E que encontros! Pessoas incríveis que vou levar, nem que seja na memoria, pro resto da vida. Algumas farei mais do que questão de guardar como amigos chegados, pois é na hora do aperto financeiro, sentimental e todos os apertos que passamos por não estar em casa, que conseguimos descobrir algumas pessoas INCRÍVEIS. Muitas pessoas boas, algumas são de Belém, algumas do restante do Brasil, uns tugas e alguns de outros países, todas, sem dúvidas, me mudaram intensamente de alguma forma.

Se virar. Mudar. Aprender. Viver. Tanta coisa que mudou, são uns 100 anos em dois, é tipo um curso intensivo de vida. Lições que vão da organização de uma casa à capacidade de relacionar-se com pessoas completamente diferentes, mas que só pelo de serem brasileiros criar um fator ímpar de igualdade que nos uni, se fosse paraenses então... Égua, era perfeito.

Esses aprendizados foram muito facilitados por terem sido feitos em Braga, que é surpreendente. Uma cidade pequena, pacata, cheia de contradições e com um estranho número de malucos por metro quadrado. Uma cidade com um tempo completamente diferente de Belém que acorda às cinco da manhã, às sete já tem um transito infernal e as oito é praticamente parada. Braga é paz de espírito.

Apesar de achar que o maior aprendizado é o que esta por vir. A despedida. Acredito que envelheci uns anos anos aqui, envelhecer no sentido de adquirir experiencia, aprendizado e compreensão nova para algumas velhas questões.

E no inicio do verão, há alguns meses atrás, já com saudades antecipadas, saí e fiz umas fotos de alguns lugares que estarão eternamente na minha memoria.


quinta-feira, 5 de setembro de 2013

E antecipou-se...



Ou cheio de amor,
ou cheio de poesia.
Assim escreve-se bonito.
Não por estar ou ser,
que me encho de escrita bonita,
e sem saber escrever digo:
saudades antecipadas
é sofrimento escolhido sofrer
é dor de ir ou ficar
mas querer ficar ou ir
ao compasso de que se percebe
o peso das asas
que nasceram com a vontade de ir
e descobriram o desejo de voltar
ficar,
estar e
ser
o que se pode ser.
Enfim...
Escolhido, sempre é escolhido,
e o que tem que ser sempre terá mais força.

domingo, 11 de agosto de 2013

Meu maluco


Minha foto preferida

Já conheço ele tem uns vinte tantos anos. E em cada ano gosto mais desse senhor, o nome dele? Carlos Alberto Corrêa de Carvalho, meu pai. Um senhor um tanto peculiar, um homem diferente, um pai único e ser especial.

Pode parece clichê da distância, mas ele me faz uma falta gigante. Domingos, aliais, finais de semana são sempre mais divertidos com ele, são jargões, “E”ditados populares, churrasco e o irritante cheiro de comida desde às seis da manhã, que compõem cada sábado e domingo na minha casa graças à ele.

Hoje, no Brasil, é dia dos pais, e por coincidência é o aniversário dele. Obviamente, pela distância, não posso não fazer nada e como não posso estar com ele, que ao menos um texto e umas fotos sirvam de homenagem ao meu PAI.

Não tenho como descrever ele. É um homem de quase 50 anos de idade, que consegue manter uma felicidade genuína, e apesar de todas as coisas – coisas da vida – continua sendo simples, feliz e com uma estranha pureza, que é o que mais me fascina nele. E um ser diferente, e como minha mãe, meu irmão e eu, é um peixe fora d'água, inconformado, não rancoroso por isso e estranhamente feliz.

Amo meu pai, que em toda minha vida, e talvez sem saber, meu deu vários exemplo. Ele nunca foi aqueles pais de filmes que sentam na poltrona e te dão concelhos, pra mim, foi muito melhor, me deu exemplos. Exemplos, de como me divertir, como ser um homem respeitador, como amar a família e de como as pessoas são diferentes, e por isso, a gente não pode cobrar ninguém a ser igual a nós.

Meu pai da pedagogia hardcore
Diferente ao ponto de fazer bullying com meu irmão e comigo e conseguir a façanha de não nos deixar traumatizado. E com a pedagogia dele a ensinar que a vida não deve ser levada tão a sério, e que mesmo que você seja um adolescente que ao chegar na escola, abre a mochila e encontra um urso de pelúcia que fora colocado por seu próprio pai enquanto você tomava o café da manhã, não lhe deve estragar o dia. E um sorriso, seguido da frase “papai é maluco”, nunca me fez, e nem me fará, sentir vergonha do meu urso de pelúcia.

Ele me faz ter vontade de ser pai. Não, não vou me vingar, mentira que talvez sim, pois como já disse curiosamente pareço muito com esse maluco. Mas, por causa dele e dessas pequenas coisa, vejo que a paternidade pode ser muito divertida e ter filhos pode ser um exercício de melhoramento do mundo.


Então é isso pai, um feliz aniversário, um feliz dia dos pais e que tudo de melhor nesse mundo ainda possa acontecer com o senhor. Te amo, e sem hipocrisia, quero sim, ser um homem respeitador, companheiro, amigo, responsável e bom pai, igualzinho como lhe vejo: imperfeitamente perfeito como todos devemos ser dentro das nossas peculiaridades.

PAI com caps lock
MINHA FAMÍLIA em caps lock


domingo, 4 de agosto de 2013

O quanto custa a vida?

Aliais, o que é a vida? A gente nasce, aprende a falar, cria amizades, laços familiares e se liga emocionalmente às pessoas. Durante esse processo a gente vai crescendo, e socialmente fazendo escolhas, mas nem sempre fazemos as escolhas certas. E certas pra quem? Quem decide o que é certo e o que é errado?

Tínhamos que crescer, entrar em uma universidade pra ter um papel que diga quais são nossas competências e funções sociais, depois deveríamos casar, fazer/ter filhos, ter uma casa, um carro, depois nossos filhos iam sair de casa, íamos envelhecer para então curtir a melhor idade. Afinal, já não seriamos mais mais mão-de-obra, agora é hora de curtir a vida.

Parece o plano perfeito. Tudo perfeitamente calculado por esse sistema tão igual, justo e estável.

Estável ao ponto de criar classes e padrões sociais. Classes separadas por abismos financeiros onde há uma lei em que diz que todos são iguais, mas essa igualdade está somente nos padrões que são impostos multiforme e constantemente à todos de forma isonômica.

TODOS temos que ser iguais. Temos que ter as mesmas roupas, mesmos cabelos, mesmo modo de vida. IGUAIS. Essa é a nossa opção, caso contrário, somos excluídos, expulsos ou simplesmente mortos.

Parece um discurso de um idealista maluco. Mas há fatos que são são capazes de nos surpreender no meio da jornada, levando-nos à esses questionamentos, que são quotidianos, mas nem sempre tão fortes. O que eu to fazendo? Enquanto eu sigo o rumo “normal” da vida, existem pessoas que morrem, matam e enlouquecem, pelo simples fato de não se adequarem ao sistema. Esses, nem sempre mentes extraordinárias, são apenas pessoas incomuns, talvez mais sensíveis, que querem uma vida comum, e por isso acabam sendo vítimas das classes e padrões, e portanto sendo “eternos” inadequados e inconformados.

Às vezes mentes promissoras. [licença para o clichê] Diamantes sem lapidação, pois lapidar é caro e não é acessível à todos. Triste é ver de tão perto isso. Revoltante é olhar o quanto essa sociedade pode ser tão injusta, desigual e corrupta.

Eu quero envelhecer, mas certamente, não quero ser igual. Tenho mais medo da clicheização da vida, do que das frases clichês do meu texto ou do clichê da morte. A única coisa que quero, é que a ténue linha que separa a loucura da sanidade não seja transposta, pois são em momentos como esses tenho certeza que muito perto chego dessa linha e tenho um medo absurdo do que vejo lá do outro lado (seja ele qual for).

**04/08/2013**


sexta-feira, 26 de julho de 2013

Às vezes acontece

Saudade é coisa que vem. Às vezes a gente tá bem, fazendo as coisas do dia-a-dia, então, do nada ela vem. Palavra chata, confusa, que alegra e entristece ao mesmo tempo. Quase dois anos longe de casa, e hoje, sem dúvidas, acho que é o dia que eu mais to com saudades.

Uma vontade enorme de me teletransportar.

Saudades do Brasil em Portugal

O sal das minhas lágrimas de amor
Criou o mar que existe entre nós dois
Para nos unir e separar
Pudesse eu te dizer
A dor que dói dentro de mim
Que mói meu coração nesta paixão
Que não tem fim
Ausência tão cruel
Saudade tão fatal
Saudades do Brasil em Portugal

Meu bem, sempre que ouvires um lamento
Crescer desolador na voz do vento
Sou eu em solidão pensando em ti
Chorando todo o tempo que perdi
Vinicius de Moraes


Mas saudade é a tristeza de ter longe a alegria de ter perto alguém que se ama. E ter alguém que se ama, longe ou perto, é ter alguém para amar, e não há felicidade maior que essa. Agora é curtir essa tristezinha e continuar com os trabalho.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

A impontualidade do amor


Você está sozinho. Você e a torcida do Flamengo. Em frente a tevê, devora dois pacotes de Doritos enquanto espera o telefone tocar. Bem que podia ser hoje, bem que podia ser agora, um amor novinho em folha.

Trimmm! É sua mãe, quem mais poderia ser? Amor nenhum faz chamadas por telepatia. Amor não atende com hora marcada. Ele pode chegar antes do esperado e encontrar você numa fase galinha, sem disposição para relacionamentos sérios. Ele passa batido e você nem aí. Ou pode chegar tarde demais e encontrar você desiludido da vida, desconfiado, cheio de olheiras. O amor dá meia-volta, volver. Por que o amor nunca chega na hora certa?

Agora, por exemplo, que você está de banho tomado e camisa jeans. Agora que você está empregado, lavou o carro e está com grana para um cinema. Agora que você pintou o apartamento, ganhou um porta-retrato e começou a gostar de jazz. Agora que você está com o coração às moscas e morrendo de frio.

O amor aparece quando menos se espera e de onde menos se imagina. Você passa uma festa inteira hipnotizado por alguém que nem lhe enxerga, e mal repara em outro alguém que só tem olhos pra você. Ou então fica arrasado porque não foi pra praia no final de semana. Toda a sua turma está lá, azarando-se uns aos outros. Sentindo-se um ET perdido na cidade grande, você busca refúgio numa locadora de vídeo, sem prever que ali mesmo, na locadora, irá encontrar a pessoa que dará sentido a sua vida. O amor é que nem tesourinha de unhas, nunca está onde a gente pensa.

O jeito é direcionar o radar para norte, sul, leste e oeste. Seu amor pode estar no corredor de um supermercado, pode estar impaciente na fila de um banco, pode estar pechinchando numa livraria, pode estar cantarolando sozinho dentro de um carro. Pode estar aqui mesmo, no computador, dando o maior mole. O amor está em todos os lugares, você que não procura direito.

A primeira lição está dada: o amor é onipresente. Agora a segunda: mas é imprevisível. Jamais espere ouvir "eu te amo" num jantar à luz de velas, no dia dos namorados. Ou receber flores logo após a primeira transa. O amor odeia clichês. Você vai ouvir "eu te amo" numa terça-feira, às quatro da tarde, depois de uma discussão, e as flores vão chegar no dia que você tirar carteira de motorista, depois de aprovado no teste de baliza. Idealizar é sofrer. Amar é surpreender.

Martha Medeiros

terça-feira, 9 de abril de 2013

24 anos de mudanças e aprendizados

Alma Serena

Alma serena, a consciência pura,
assim eu quero a vida que me resta.
Saudade não é dor nem amargura,
dilui-se ao longe a derradeira festa.

Não me tentam as rotas da aventura,
agora sei que a minha estrada é esta:
difícil de subir, áspera e dura,
mas branca a urze, de oiro puro a giesta.

Assim meu canto fácil de entender,
como chuva a cair, planta a nascer,
como raiz na terra, água corrente.

Tão fácil o difícil verso obscuro!
Eu não canto, porém, atrás dum muro,
eu canto ao sol e para toda a gente.
Fernanda de Castro 


Aprender e mudar. Acho que esses foram os verbos que guiaram minha vida até hoje. Sempre achei que 24 anos seria o início da fase adulta, como se fosse uma idade de passagem (aos brasileiros: piadinhas com a idade são desnecessárias). Não sei bem o porquê, mas desde de pequeno penso assim, apesar de ter sido uma criança que não gostava muito de me imaginar adulto e sempre achar que isso estaria relacionado com o trabalho (verbo chato), mas era assim que pensava, e cá estou.

Hoje, 9 de abril de 2013, percebo que bem provavelmente estava certo. Acho que do ano passado até hoje, houve uma mudança, para não dizer amadurecimento (palavra que ainda me dá medo), tão intensa e profunda comigo, que nem sei se consigo dimensionar, e no meio dessas mudanças, há um mundo de duvidas e questionamentos que ainda precisam ser feitos e resolvidos, mas de fato dentre eles há algumas certezas e convicções e a que acho que mais me marcou esse ano foi há que MUDEI.

Isso, mudei. Se não fosse minha fé e minha família, arriscaria em dizer que sou uma pessoa completamente diferente. Em uma lógica simples acho que aprendi e por isso fiz uma pequena lista de algumas coisas que me fizeram crescer. Algumas tristes, MUITAS felizes e todas importantes.

Aprendi que...

Aprender é um processo infinito;
A fé que eu tenho é fundamental na minha vida;
Não tenho tantos amigos;
Não posso confiar tão rapidamente nas pessoas;
Minha intensidade não é a mesmas das outras pessoas;
Abraçar é um dom;
Não preciso de muito para ser feliz;
Não há motivo para guardar sentimentos, por mais que custoso que seja expressá-los;
Não tenho mais medo de ficar velho;
A vida é curta;
Existe muita gente hipócrita nesse mundo;
Ser calmo é melhor;
Sou capaz de mudar de opinião;
Tenho que dar mais ouvido a minha intuição;
Ajudar não é viver o problema dos outros;
Ajudar não é um ato de exímia bondade;
Nada me encanta mais do que demonstrações verdadeiras de afeto;
Pedir ajuda não é um sinal de fraqueza;
Gosto de pimenta;
Ainda não aprendi a lidar com pessoas clichês demais;
Gosto de gatos e cachorros;
Quero muito ser pai;
Ficar só é a melhor forma de ouvir-se;
Não preciso ter tanta pressa;
Dizer não sei pode ser muito bom;
Não preciso ser grosseiro;
Amo dias de sol;
Tenho coragem;
Tenho uma missão;
Posso ser mais amável;

Enfim, muitas cosias aprendi e muitas delas estão mudando minha vida, e para terminar esse texto trago duas músicas, uma do Arnaldo Antunes (que aprendi que gosto muito) e outra da Sinead o'connor (que eu sempre gostei). É isso, eu me sinto muito diferente e “não há o que lamentar quando chega o fim do dia”, apenas nos resta é aprender e tirar boas lições de tudo.


domingo, 24 de março de 2013

Abrace


Acto de abraçar, de apertar entre os braços, geralmente em demonstração de amor, gratidão, carinho, amizade, etc.”

Assim falou-me o dicionário, e por isso eu digo e afirmo: nada como um abraço. Acho ele é uma simples expressão que consegue transmitir um mundo de sentimentos. Um simples abraço é capaz de exorcizar, trocar energias, aliviar, aclamar, purificar e deixar as pessoas mais próximas.

Gosto de abraçar, aperto de mão é para os fracos. O abraço é o olá perfeito e um até logo delicioso. Basta ter o mínimo de sensibilidade para perceber e interpretar os sentimentos que se passam entre os braços das pessoas que gostam da gente, ou das fingem. Um abraço bem dado não engana, nele percebe-se a sutileza do que as vezes não se quer falar.

Abraçar é parear corações, aproximar rostos, sentir a respiração, o pulsar do coração e quando tem o tapinha nas costas e beijinho no rosto torna-se muito mais que perfeito.

Então é isso: abrace sem vergonhamente, intensamente, apaixonadamente, abrace por inteiro, como se cada abraço fosse o último. O ultimo com gosto de até logo, e abrace na proporção das virgulas chatas desse texto chato.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Cada um têm seus vícios



Gosto de dengo,
sou manhoso,
carinho é meu vício e
um abraço me dopa.

E nessa vida,
busco apenas
o alucinogénio perfeito.
Não que ache que vá encontrá-lo.

Mas nada me impede,
de insistentemente,
procurá-lo.

Nessas buscas alguns arranhões,
cicatrizes e muitos sorrisos.
Carinho é meu vício,
e um abraço em endoida!  

segunda-feira, 11 de março de 2013

Samba e amor


Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito sono de manhã
Escuto a correria da cidade que arde
E apressa o dia de amanhã
De madrugada a gente 'inda se ama
E a fábrica começa a buzinar
O trânsito contorna a nossa cama, reclama
Do nosso eterno espreguiçar
No colo da bem vinda companheira
No corpo do bendito violão

Eu faço samba e amor a noite inteira
Não tenho a quem prestar satisfação

Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito mais o que fazer
Escuto a correria da cidade. Que alarde!
Será que é tão difícil amanhecer?
Não sei se preguiçoso ou se covarde
Debaixo do meu cobertor de lã

Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito sono de manhã.
Chico  Buarque

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Anseios e It's oh so quiet



 Meu doido coração aonde vais,
No teu imenso anseio de liberdade?
Toma cautela com a realidade;
Meu pobre coração olha cais!

Deixa-te estar quietinho! Não amais
A doce quietação da soledade?
Tuas lindas quimeras irreais
Não valem o prazer duma saudade!

Tu chamas ao meu seio, negra prisão!...
Ai, vê lá bem, ó doido coração,
Não te deslumbre o brilho do luar!

Não estendas tuas asas para o longe...
Deixa-te estar quietinho, triste monge,
Na paz da tua cela, a soluçar!...

Florbela Espanca


It's oh so quiet
It's oh so still
You're all alone
And so peaceful until...

You fall in love (zing! boom!)
The sky up above (zing! boom!)
Is caving in (wow! bam!)

You've never been so nuts about a guy
You want to laugh, you want to cry
You cross your heart and hope to die

'til it's over and then
It's nice and quiet
But soon again
Starts another big riot

You blow a fuse (zing! boom!)
The devil cuts loose (zing! boom!)
So what's the use (wow! bam!)
Of falling in love?

It's oh so quiet
It's oh so still
You're all alone
And so peaceful until...

You ring the bell (bim! bam!)
You shout and you yell (hi ho ho!)
You broke the spell

Gee, this is swell, you almost have a fit
This guy is gorge and i got hit
There's no mistake : this is it

'til it's over and then
It's nice and quiet
But soon again
Starts another big riot

You blow a fuse (zing! boom!)
The devil cuts loose (zing! boom!)
So what's the use (wow! bam!)
Of falling in love?

The sky caves in
The devil cuts loose
You blow, blow, blow, blow, blow your fuse
Aah!
When you fall in love
Björk

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Insanidade



Insanidade,
sem gelo,
por favor?

Dose dupla,
aliás.

Para que desça,
pela garganta,
como as melhores bebidas.

Para que suba,
até o cérebro,
como os mais fortes ácidos.

Para que nos arraste,
até o fundo do poço,
como a mais real tristeza.

Para que nos faça voar,
como o mais profundo beijo.

Para que nos faça sentir,
como o maior dos amores.

E, principalmente,
para que nos faça viver,
de modo intenso,
e essencial,
como a mais insana vida.
Rebeca Funke

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Genuíno e simples


No burburinho midiático de crítica ao “cristianismo” fico tentando proteger minha fé e compreendê-la melhor. Não gosto de repercutir discursos com os quais não concordo, mas acho que o cristianismo que é vendido – acho que o verbo é mesmo esse: vender – hoje, não representa a genuinidade e simplicidade do que a fé em Cristo é.

E quando penso nisso, lembro-me de um poema lindo do  Fernando Pessoa, que interpretado por Maria Bethânia fica mais lindo e representa muito do que é minha fé:



Poema do Menino Jesus

Num meio-dia de fim de Primavera

Tive um sonho como uma fotografia.

Vi Jesus Cristo descer à terra.

Veio pela encosta de um monte

Tornado outra vez menino,

A correr e a rolar-se pela erva

E a arrancar flores para as deitar fora

E a rir de modo a ouvir-se de longe.



Tinha fugido do céu.

Era nosso demais para fingir

De segunda pessoa da Trindade.

(...)



Um dia que Deus estava a dormir

E o Espírito Santo andava a voar,

Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.

Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.

Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.

Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz

E deixou-o pregado na cruz que há no céu

E serve de modelo às outras.

Depois fugiu para o Sol

E desceu no primeiro raio que apanhou.

Hoje vive na minha aldeia comigo.

É uma criança bonita de riso e natural.

Limpa o nariz ao braço direito,

Chapinha nas poças de água,

Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.

Atira pedras aos burros,

Rouba a fruta dos pomares

E foge a chorar e a gritar dos cães.

E, porque sabe que elas não gostam

E que toda a gente acha graça,

Corre atrás das raparigas

Que vão em ranchos pelas estradas

Com as bilhas às cabeças

E levanta-lhes as saias.



A mim ensinou-me tudo.

Ensinou-me a olhar para as coisas.

Aponta-me todas as coisas que há nas flores.

Mostra-me como as pedras são engraçadas

Quando a gente as tem na mão 

E olha devagar para elas.


(...)



Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.

Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.

Ele é o humano que é natural.

Ele é o divino que sorri e que brinca.

E por isso é que eu sei com toda a certeza

Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.


(...)


A Criança Nova que habita onde vivo

Dá-me uma mão a mim

E outra a tudo que existe

E assim vamos os três pelo caminho que houver,

Saltando e cantando e rindo

E gozando o nosso segredo comum

Que é saber por toda a parte

Que não há mistério no mundo

E que tudo vale a pena.



A Criança Eterna acompanha-me sempre.

A direcção do meu olhar é o seu dedo apontado.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons

São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.



Damo-nos tão bem um com o outro

Na companhia de tudo

Que nunca pensamos um no outro,

Mas vivemos juntos e dois

Com um acordo íntimo

Como a mão direita e a esquerda.



Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas

No degrau da porta de casa,

Graves como convém a um deus e a um poeta,

E como se cada pedra

Fosse todo o universo

E fosse por isso um grande perigo para ela

Deixá-la cair no chão.



Depois eu conto-lhe histórias das coisas só dos homens

E ele sorri porque tudo é incrível.

Ri dos reis e dos que não são reis,

E tem pena de ouvir falar das guerras,

E dos comércios, e dos navios

Que ficam fumo no ar dos altos mares.

Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade

Que uma flor tem ao florescer

E que anda com a luz do Sol

A variar os montes e os vales

E a fazer doer aos olhos dos muros caiados.



Depois ele adormece e eu deito-o.

Levo-o ao colo para dentro de casa

E deito-o, despindo-o lentamente

E como seguindo um ritual muito limpo

E todo materno até ele estar nu.



Ele dorme dentro da minha alma

E às vezes acorda de noite

E brinca com os meus sonhos.

Vira uns de pernas para o ar,

Põe uns em cima dos outros

E bate palmas sozinho

Sorrindo para o meu sono.



Quando eu morrer, filhinho,

Seja eu a criança, o mais pequeno.

Pega-me tu ao colo

E leva-me para dentro da tua casa.

Despe o meu ser cansado e humano

E deita-me na tua cama.

E conta-me histórias, caso eu acorde,

Para eu tornar a adormecer.

E dá-me sonhos teus para eu brincar

Até que nasça qualquer dia

Que tu sabes qual é.



Esta é a história do meu Menino Jesus.

Por que razão que se perceba

Não há-de ser ela mais verdadeira

Que tudo quanto os filósofos pensam

E tudo quanto as religiões ensinam ?

Fernando Pessoa (Alberto Caeiro)