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terça-feira, 23 de outubro de 2012

Necrológio dos desiludidos do amor



Os desiludidos do amor 
estão desfechando tiros no peito.
Do meu quarto ouço a fuzilaria.
As amadas torcem-se de gozo.
Oh quanta matéria para os jornais.

Desiludidos mas fotografados,
escreveram cartas explicativas,
tomaram todas as providências
para o remorso das amadas.

Pum pum pum adeus, enjoada.
Eu vou, tu ficas, mas nos veremos
seja no claro céu ou turvo inferno.

Os médicos estão fazendo a autópsia
dos desiludidos que se mataram.
Que grandes corações eles possuíam.
Vísceras imensas, tripas sentimentais
e um estômago cheio de poesia.

Agora vamos para o cemitério
levar os corpos dos desiludidos
encaixotados competentemente
(paixões de primeira e segunda classe).

Os desiludidos seguem iludidos,
sem coração, sem tripas, sem amor.
Única fortuna, os seus dentes de ouro
não servirão de lastro financeiro
e cobertos de terra perderão o brilho
enquanto as amadas dançarão um samba
bravo, violento, sobre a tumba deles.

Carlos Drummond de Andrade

sábado, 20 de outubro de 2012

Devendra Banhart



Folk psicodélico, disse-me o Wikipédia sobre Devendra Banhart. Só podíamos esperar um estilo totalmente diferente quando se fala de uma pessoa que nasce nos Estados Unidos e é criada na Venezuela, esse é o “típico” histórico de vida que leva uma pessoa a ser considerada, hoje, como um dos artistas mais importante do movimento New Weird America.

Loucuras a parte, Devendra já possui uma carreira artística com mais de 10 anos, que começa com o lançamento, em 2002, do albúm The Charles C. Leary. Nota-se claramente que, mesmo mantendo o estilo, os oito álbuns e os sete EP's possuem características especificas, uma visível evolução na produção musical e uma encantadora evolução na produção visual.

Vale muito conhecer esse cantor. Além de já ter muita coisa produzida, promete continuar ativo na criatividade Weird. Algumas das minhas música prediletas:






* Fotos  GI

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Dia das crianças com gosto de saudade


23 anos, um ano longe de casa e muita saudade. Dia 12 de Outubro, comemora-se no Brasil o dia das crianças, nesse período as pessoas costumam colocar suas fotos da infância no Facebook. E o resultado é : UMA NOSTALGIA. Esse é o meu sentimento.

Agora eu to aqui cheio de saudades do abraço da minha mãe, dos almoços com meu pai e, acredite, até do Rangel. Domingos de manhã: vamos comer tapioquinha e cuscuz em mosqueiro. A vida da umas voltas tão loucas, é uma grande sequência de loopings alucinantes e a saudade, como resultado, são os enjoos que a gente vai sentindo ao longo do caminho.

Fotos da infância, semana do círio e tudo mais feito, como que de propósito, para me fazer sentir saudade de Belém do Pará e quem lá está. Foi por isso que lembrei-me de dois trechos de Guimarães Rosa, que me acalmam pois lembro que a saudade é resultado da distancia de um grande amor, e o que era para ser triste, fica feliz por saber que HÁ um grande amor.

“Saudade é ser, depois de ter”
“O amor é sede depois de se ter bem bebido”

Longe de casa, longe dos melhores anos da vida, longes das pessoas que amo e tão longe. Nostalgia. Tão longe e tão cheio de amores, minha vida é linda pois sei que meu coração ainda está pertinho, mas mesmo assim continuo a me perguntar:

Onde é que eu fui parar?
Aonde é esse aqui?
Não dá mais pra voltar
Por que eu fiquei tão longe?
Longe....



quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Um ano longe de casa

Meu Deus. Um ano. Mal sei como começar a escrever. Hoje, 03 de outubro, faz um ano que cheguei em Portugal. Pensei várias vezes sobre o que iria escrever, para que de alguma forma esse dia fose  registrado, mas, agora, aqui na frente do computador, falta-me razão para sistematizar um mundo de sentimentos.

O que posso dizer e afirmar com toda a racionalidade do mundo é que muita coisa mudou. Fiz amigos, aprendi muita coisa, pensei, li, amadureci e passei a perceber um monte de coisas de uma forma totalmente diferente. Sair de casa é como fazer um intensivo de vida, é perceber nitidamente  como mudamos em tão pouco tempo. Todas as coisas são mais intensas, tudo é sim ou não, ao menos para mim – que meio que sempre fui assim – que nunca lidei bem com os meios-termo.  

O saldo é positivo com louvor. Poucas foram as decepções e  até agora não vejo nenhuma frustação e tudo vai caminhando em uma velocidade frenética mais muito bem.

Das várias coisas que mudaram vou destacar algumas que vejo como grandes mudanças:

Família

A foto não é muito boa, mas foram nossas férias mais divertidas.

Sempre eles foram importante e cada um deles - até o Rangel, que é meu irmão – me fizeram falta todos os dias, mesmo tendo as nossas dose diárias de Skype, eu senti falta do estar perto, das discussões (que parecem cenas de uma série de comédia), dos almoços dos finais de semana e de toda a nossa rotina de estarmos juntos sempre. Olhar para eles de longe, foi como olhá-los com uma lupa, não uma lupa qualquer, mas uma lupa que aumenta tudo de bom que eles têm e mostra até os defeitos (defeitos que percebi que são postos por mim) como algo que os torna especiais e únicos. 

Percebi que sou uma pessoa de sorte por ter sido criado nessa família. Uma família muito diferente. Loucos por natureza, idealistas, sonhadores, utopistas (se é que essa palavra existe), amigos, parceiros e muito mais. Definitivamente tenho sorte e agora  de longe meu respeito e admiração por eles só cresce mais e mais.

Tenho uma mãe incrível, um pai maravilhoso e um irmão ok, são eles minha base, meu sustento e minha força. Mesmo aqui de longe, estamos sempre perto.   

Não poderia esquecer da minha TIA Samantha que é minha mãe/irmã espiritual, é uma pessoa que me faz uma falta tremenda e todas as vezes que falo com ela, por mais rápido que seja, faz-me um bem incrivel é como um remédio. Depois de conhecê-la, há mais de dez anos, descobri o significado de almas gêmeas, que é uma coisa de amor puro, de conexão inexplicável e é também graças à ela e suas orações tão preciosas e precisas que tenho forças.


Brasil-Pará- Belém

Olhar nosso país de fora é um exercício muito interessante. Percebo basicamente dois resultados, existe um terceiro que são aqueles que odeiam o Brasil e dizem que qualquer lugar do mundo é melhor, mas vou desconsiderá-los (não tenho paciência). O primeiro (considerável) é  o clássico oba oba  brasileiro, onde somos uma das maiores economias do mundo, que esse crescimento é magnifico para o Brasil, que seremos o país da copa e das olimpíadas e agora vai tudo muito bem. Esses normalmente pensam nosso como um grande potencial, que ele é, mas o mostram para o mundo – tal como os últimos governos tem feito – como se as coisas estivem muito boas a ponto de ser o paraíso.

A outra forma de ver, que é a minha  e não que eu precisasse dizer pois acho que deve estar claro, é a de olhar para o Brasil com todo o respeito pelos brasileiros que cada dia pagam mais caro para morarem em um lugar que não os respeita e não os dá as condições mínimas para viver de uma forma digna. 

Belém é o melhor lugar do mundo. Sem hipocrisias, acho que o povo de Belém não tem noção o quanto somos cosmopolita, é engraçado como os comportamentos mais estranhos não nos assustam, parece que já estamos familiarizados com todas as loucuras do mundo. O afastamento permite-nos olhar para o círio, para nossas músicas, nossas festas e todo o restante e ver sentido em tudo aquilo e perceber melhor a cagada cultural (só uma expressão paraense para explicar) que é nossa vida nessa cidade.

Para além disso tem nossa clássica saudade de tudo. Comidas, pessoas e até o clima as vezes faz falta.

Sonhos
Deus deixa eu morar aqui!

Sou uma pessoa que sonha continuamente. Acho que eles, os sonhos, são o motor da vida, quando nos permitimos sonhar, geramos a força de ir em frente, de desejar e de viver a vida. Nesse ultimo ano realizei meu grande sonho. Clichê, brega, cafona, seja o que for fui à Paris.

Era, é e será sempre minha viagem dos sonhos, e a fiz do jeitinho que eu imaginava. Fui aos pontos turísticos, andei até me perder, falei francês, comprei baguetes, croissants, churros e tudo mais, fiz até um Paris by night de moto e a sensação da Champs-Élysées toda iluminada com o arco do trinfo lá no fundo estará sempre na minha memória... Meu Deus obrigado.

Braga-Portugal

Das milhares de fotos selecionei a minha primeira vista de braga: o centro


Uma surpresa. Essa é minha definição para essa cidade e esse país. Confesso que nunca tinha pensado, nem eram planos vir para cá, mas depois que cheguei é uma surpresa diária  e uma paixão constante. 

A começar por Braga que é uma das cidade linda, acolhedora e apaixonante, cheia de sabores e cores únicas. Depois Portugal que consegue ser um país tão pequeno e tão diversos geograficamente e culturalmente, com pessoas diferentes no comportamento, mas simplesmente boas, prestativas e divertidas, que me encantam sempre.

Acho uma pena o brasileiros desconhecerem Portugal. Vir é uma oportunidade de conhecer esse país incrível e perceber um pouco melhor uma das nossas raízes culturais.

Finalizando... 

Só sei que tenho muita coisa para contar, mas acho que para já era isso. Um ano longe de casa não é fácil e  custa muito, mas tenho vivido essa experiência intensamente e todos os dias aprendido muita coisa. Agradeço ao meu Deus que é meu maior amigo e até aqui me ajudou, aos meus amigos que sempre me dão força via Facebook, Skype, Messenger e Google +.

 E pra finalizar, acho que o sentimento é esse mesmo de agradecimento e de esperança que tudo continue na mesma paz e que desafios maiores e melhores venham.