Há tempos que queria escrever sobre os malucos de Braga. Acho engraçado. Sei lá, uma cidade pequena com tantos malucos. Bom, mas para começar, vou falar dela: MANUELA (imaginar som e voz sensual).
Nossa história de amor, traição e sensualidade começou no início da primavera de 2012. Tudo lindo, novas possibilidades de sol e a vontade de perder os quilos do inverno me fizeram fazer caminhadas ao Bom Jesus. Aos que não conhecem o santuário de Braga, saibam que é lindo. Fica no topo de um monte e tem uma escadaria de centenas de degraus, CEN-TE-NAS, mas no final, ao chegar lá em cima, logo nos deparamos com um linda paisagem. Vê-se tudo de lá . Braga, os monte que rodeiam a cidade e todo o restante do complexo que é o Bom Jesus que por si só, é encantador. E numa dessas idas que encontrei com ela.
Foi assim...
Lá estava eu, sentado depois de longos e cansativos degraus. Enquanto ouvia minhas músicas, mais precisamente a última faixa do acústico MTV da Rita Lee, que era o tempo exato da minha casa até o Bom Jesus, e, foi quando ela sentou-se ao meu lado.
- Boa tarde!
Com um gentil sorriso retribuí :
- Boa tarde!
- És brasileiro?
Mais um sorriso e ai tirei os fones do ouvido:
- Sim.
- Logo se vê pelo sorriso, disposição...
Mais um sorriso, não como antes, mas agora aquele ar meio constrangido e acompanhado do recolocamento dos fones.
- Ah, obrigado.
Minutos de embaraço e constrangimento. Entretanto ela não desistia e a conversar ganhou um novo ar... Ousada aquela Manuela, ousada...
- Belo sorriso... brasileiros pah! Olha, é, vou eu lá no banheiro, tenho que ir ao banheiro se quiseres...
Agora o “sorriso” era com o ar de espanto, uma certa tensão e um total estranhamento. Ora, afinal toda essa história era novidade. Não sou acostumado com uma mulher como a Manu dando em cima de mim e com um convite tão indiretamente direto como aquele.
Nessa hora o sorriso já tinha ido embora, apenas os lábios ligeiramente aberto numa mistura de espanto com sei lá o que. E ela:
- Bom, logo vi, mas isso é pra si.
Um papelzinho com telefone, corações e o nome Manuela escrito em letras de forma. Foi assim, peguei, sorri e ela foi embora se despedindo com um sorriso que, segundo minha interpretação, significava um último convite.
Não fui. Peguei o papelzinho, esperei um tempo pra ela se distanciar e voltei. Tudo o que eu queria era minha casa naquele momento. E como era de se esperar, a partir daquele dia meu relacionamento com o Bom Jesus nunca mais foi o mesmo. Fui lá outras vezes e recentemente encontrei como ela novamente. Dessa vez, a interação foi menos intensa e constrangedora na mesma.
O que eu esqueci de mencionar é que Manuela, ou Manu, como eu a chamo, é uma senhora de uns 60 e tantos anos. E pelo o que me consta, não fui a única vitima daquela sedutora mulher de terceira idade, outras pessoas, inclusive amigos – sim amigos, ela foi capaz de cantar meus amigos. Como ela pôde? Traidora - foram vítimas das palavras de encantamento daquela sex machine with experience.
E é assim foi... a história daquele dia que mudou a minha vida.
“I’d like to do a song of great social and political import”, Janis Joplin.
Não há como fugir do cliché de dizer que um trabalho como este não foi feito por uma única pessoa, apesar de ter sido eu que o escrevi. Mesmo tendo a certeza que foi um trabalho resultado de um coletivo, fica impossível neste espaço falar de todas as pessoas que contribuíram e muito menos expressar meus sentimentos de gratidão.
Mas seria impossível deixar de agradecer a Professora Helena Sousa, minha orientadora, que desde o início demonstrou apoio ao meu estudo, contribuindo grandemente para o amadurecimento reflexivo das coisas que acredito e que vão muito além das teorias estudas na academia. Bem como, o Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, que é composto por um excelente corpo docente e uma forma de trabalho com a qual tive identificação desde os primeiros dias aqui.
Dentro desse Instituto não há também como não falar da equipe de investigadores do projeto “A Regulação dos Media em Portugal: o Caso da ERC”, que diretamente, com conversas casuais e formais, e indiretamente com o acervo bibliográfico produzido por eles, ajudaram em todo o processo de escrita desta dissertação. Além da Professora Helena Sousa, que coordena o projeto, um agradecimento especial para meus amigos Sergio Denicoli e Marta Eusébio que foram especiais contribuintes neste trabalho.
E esses dois anos longe de casa, só aumentaram a minha admiração, respeito e amizade por minha família. Por isso, obviamente quero agradecer aos meus melhores amigos, que por coincidência são meu pai, Carlos Alberto; minha mãe Raquel Marinho; e meu irmão Rangel Marinho. Mas não poderia deixar de falar dos meus tios, intercessores e amigos, Nubia e Eliel Pereira, meus irmão de fé que me ajudaram com suas orações de força e sabedoria durante todo esse não tão fácil esse período.
Curiosamente tenho muitos amigos e sem eles seria impossível fazer qualquer coisa que seja. Então queria agradecer imensamente aos corações incríveis que encontrei em Portugal, que se tornaram parte fundamental da minha vida e foram e sem dúvidas, pilares de carinho, sabedoria e não enlouquecimento. Não vou citar nomes para não cometer injustiça, mas tenho a certeza que ao lerem cada um se identificará e muitas boas histórias e risadas virão a toma.
Não poderia deixar de agradecer também aos meus amigos que ficaram no Brasil, ou que estão em algum outro canto do mundo. Mesmo com a distância tenho certeza que torceram por mim e foram fundamentais nesse processo, por isso sou eternamente grato pelo companheirismo e amizade de cada um.
Por último e não menos importante, sinto a necessidade de agradecer a cidade de Braga e a esse incrível país que é Portugal. Fui muito bem acolhido e respeitado por esse país de grandes riquezas culturais, gastrómicas e com uma linda capacidade de receber todos os estudantes que para cá vem. Obrigado por tudo.
03 de Outubro, uma data que vai ficar em definitivo na minha
memória, um marco de muitas mudanças. Na bagagem? Levo certamente
uma outra vida, outros paradigmas e novos pensamentos. Em 2011, nesse
mesmo dia chegava à Braga. Com muitas perspectivas para o mundo
universitário e sem a mínima dimensão do que seria mudar de cidade
por dois anos. E o que aconteceu? UMA CONFUSÃO. Sim, foi o que
aconteceu na minha vida desde que cheguei aqui.
No mundo universitário nada de muito inovador aconteceu. Assisti
aulas, fui à seminários, fiz contatos, escrevi artigos, participei
de um projeto muito legal e o instituto do qual faço parte tem tudo
o que eu precisava e de certa forma esperava. Assim como a própia
universidade que faço parte, não tem do que reclamar. A
Universidade do Minho tem excelentes refeitórios, a biblioteca tem
um mundo de livros de múltiplas áreas, tem uma vista linda para os
principais pontos turísticos e até a academia/ginásio me
conquistou.
Mas o real fator de mudanças e o que me encantou, esteve no
turbilhão de sentimentos que são recorrentes, acho eu, para quem ta
em outro país. É como se fosse um outro mundo e em Braga que é uma
cidade universitária existem peculiaridades fantásticas. São
constantes encontros e despedidas que acrescentam alegria e levam
pedaços. E que encontros! Pessoas incríveis que vou levar, nem que
seja na memoria, pro resto da vida. Algumas farei mais do que questão
de guardar como amigos chegados, pois é na hora do aperto
financeiro, sentimental e todos os apertos que passamos por não
estar em casa, que conseguimos descobrir algumas pessoas INCRÍVEIS.
Muitas pessoas boas, algumas são de Belém, algumas do restante do
Brasil, uns tugas e alguns de outros países, todas, sem dúvidas, me
mudaram intensamente de alguma forma.
Se virar. Mudar. Aprender. Viver. Tanta coisa que mudou, são uns
100 anos em dois, é tipo um curso intensivo de vida. Lições que
vão da organização de uma casa à capacidade de relacionar-se com
pessoas completamente diferentes, mas que só pelo de serem
brasileiros criar um fator ímpar de igualdade que nos uni, se fosse
paraenses então... Égua, era perfeito.
Esses aprendizados foram muito facilitados por terem sido feitos
em Braga, que é surpreendente. Uma cidade pequena, pacata, cheia de
contradições e com um estranho número de malucos por metro
quadrado. Uma cidade com um tempo completamente diferente de Belém
que acorda às cinco da manhã, às sete já tem um transito infernal
e as oito é praticamente parada. Braga é paz de espírito.
Apesar de achar que o maior aprendizado é o que esta por vir. A
despedida. Acredito que envelheci uns anos anos aqui, envelhecer no
sentido de adquirir experiencia, aprendizado e compreensão nova
para algumas velhas questões.
E no inicio do verão, há alguns meses atrás, já com saudades
antecipadas, saí e fiz umas fotos de alguns lugares que estarão
eternamente na minha memoria.
Já conheço ele tem uns vinte tantos
anos. E em cada ano gosto mais desse senhor, o nome dele? Carlos
Alberto Corrêa de Carvalho, meu pai. Um senhor um tanto peculiar, um
homem diferente, um pai único e ser especial.
Pode parece clichê da distância, mas
ele me faz uma falta gigante. Domingos, aliais, finais de semana são
sempre mais divertidos com ele, são jargões, “E”ditados
populares, churrasco e o irritante cheiro de comida desde às seis da
manhã, que compõem cada sábado e domingo na minha casa graças à
ele.
Hoje, no Brasil, é dia dos pais, e por
coincidência é o aniversário dele. Obviamente, pela distância,
não posso não fazer nada e como não posso estar com ele, que ao
menos um texto e umas fotos sirvam de homenagem ao meu PAI.
Não tenho como descrever ele. É um
homem de quase 50 anos de idade, que consegue manter uma felicidade
genuína, e apesar de todas as coisas – coisas da vida – continua
sendo simples, feliz e com uma estranha pureza, que é o que mais me
fascina nele. E um ser diferente, e como minha mãe, meu irmão e eu,
é um peixe fora d'água, inconformado, não rancoroso por isso e
estranhamente feliz.
Amo meu pai, que em toda minha vida, e
talvez sem saber, meu deu vários exemplo. Ele nunca foi aqueles
pais de filmes que sentam na poltrona e te dão concelhos, pra mim,
foi muito melhor, me deu exemplos. Exemplos, de como me divertir,
como ser um homem respeitador, como amar a família e de como as
pessoas são diferentes, e por isso, a gente não pode cobrar ninguém
a ser igual a nós.
Meu pai da pedagogia hardcore
Diferente ao ponto de fazer bullying
com meu irmão e comigo e conseguir a façanha de não nos deixar
traumatizado. E com a pedagogia dele a ensinar que a vida não deve
ser levada tão a sério, e que mesmo que você seja um adolescente
que ao chegar na escola, abre a mochila e encontra um urso de pelúcia
que fora colocado por seu próprio pai enquanto você tomava o café
da manhã, não lhe deve estragar o dia. E um sorriso, seguido da
frase “papai é maluco”, nunca me fez, e nem me fará, sentir
vergonha do meu urso de pelúcia.
Ele me faz ter vontade de ser pai. Não,
não vou me vingar, mentira que talvez sim, pois como já disse
curiosamente pareço muito com esse maluco. Mas, por causa dele e
dessas pequenas coisa, vejo que a paternidade pode ser muito
divertida e ter filhos pode ser um exercício de melhoramento do
mundo.
Então é isso pai, um feliz
aniversário, um feliz dia dos pais e que tudo de melhor nesse mundo
ainda possa acontecer com o senhor. Te amo, e sem hipocrisia, quero
sim, ser um homem respeitador, companheiro, amigo, responsável e bom
pai, igualzinho como lhe vejo: imperfeitamente perfeito como todos devemos ser dentro das nossas peculiaridades.
Aliais, o que é a vida? A gente nasce,
aprende a falar, cria amizades, laços familiares e se liga
emocionalmente às pessoas. Durante esse processo a gente vai
crescendo, e socialmente fazendo escolhas, mas nem sempre fazemos as
escolhas certas. E certas pra quem? Quem decide o que é certo e o
que é errado?
Tínhamos que crescer, entrar em uma
universidade pra ter um papel que diga quais são nossas competências
e funções sociais, depois deveríamos casar, fazer/ter filhos, ter uma
casa, um carro, depois nossos filhos iam sair de casa, íamos
envelhecer para então curtir a melhor idade. Afinal, já não
seriamos mais mais mão-de-obra, agora é hora de curtir a vida.
Parece o plano perfeito. Tudo
perfeitamente calculado por esse sistema tão igual, justo e estável.
Estável ao ponto de criar classes e
padrões sociais. Classes separadas por abismos financeiros onde há
uma lei em que diz que todos são iguais, mas essa igualdade está
somente nos padrões que são impostos multiforme e constantemente à
todos de forma isonômica.
TODOS temos que ser iguais. Temos que
ter as mesmas roupas, mesmos cabelos, mesmo modo de vida. IGUAIS.
Essa é a nossa opção, caso contrário, somos excluídos, expulsos
ou simplesmente mortos.
Parece um discurso de um idealista
maluco. Mas há fatos que são são capazes de nos surpreender no
meio da jornada, levando-nos à esses questionamentos, que são
quotidianos, mas nem sempre tão fortes. O que eu to fazendo?
Enquanto eu sigo o rumo “normal” da vida, existem pessoas que
morrem, matam e enlouquecem, pelo simples fato de não se adequarem ao
sistema. Esses, nem sempre mentes extraordinárias, são apenas
pessoas incomuns, talvez mais sensíveis, que querem uma vida comum,
e por isso acabam sendo vítimas das classes e padrões, e portanto
sendo “eternos” inadequados e inconformados.
Às vezes mentes promissoras. [licença
para o clichê] Diamantes sem lapidação, pois lapidar é caro e não
é acessível à todos. Triste é ver de tão perto isso. Revoltante
é olhar o quanto essa sociedade pode ser tão injusta, desigual e
corrupta.
Eu quero envelhecer, mas certamente,
não quero ser igual. Tenho mais medo da clicheização da
vida, do que das frases clichês do meu texto ou do clichê da morte.
A única coisa que quero, é que a ténue linha que separa a loucura
da sanidade não seja transposta, pois são em momentos como esses
tenho certeza que muito perto chego dessa linha e tenho um medo
absurdo do que vejo lá do outro lado (seja ele qual for).
Saudade é coisa que vem.
Às vezes a gente tá bem, fazendo as coisas do dia-a-dia, então, do
nada ela vem. Palavra chata, confusa, que alegra e entristece ao
mesmo tempo. Quase dois anos longe de casa, e hoje, sem dúvidas,
acho que é o dia que eu mais to com saudades.
Uma vontade enorme de me
teletransportar.
Saudades do Brasil em
Portugal
O sal das minhas lágrimas
de amor
Criou o mar que existe
entre nós dois
Para nos unir e separar
Pudesse eu te dizer
A dor que dói dentro de
mim
Que mói meu coração
nesta paixão
Que não tem fim
Ausência tão cruel
Saudade tão fatal
Saudades do Brasil em
Portugal
Meu bem, sempre que
ouvires um lamento
Crescer desolador na voz
do vento
Sou eu em solidão
pensando em ti
Chorando todo o tempo que
perdi
Vinicius de Moraes
Mas saudade é a tristeza
de ter longe a alegria de ter perto alguém que se ama. E ter alguém
que se ama, longe ou perto, é ter alguém para amar, e não há
felicidade maior que essa. Agora é curtir essa tristezinha e
continuar com os trabalho.
Você está sozinho. Você e a torcida
do Flamengo. Em frente a tevê, devora dois pacotes de Doritos
enquanto espera o telefone tocar. Bem que podia ser hoje, bem que
podia ser agora, um amor novinho em folha.
Trimmm! É sua mãe, quem mais poderia
ser? Amor nenhum faz chamadas por telepatia. Amor não atende com
hora marcada. Ele pode chegar antes do esperado e encontrar você
numa fase galinha, sem disposição para relacionamentos sérios. Ele
passa batido e você nem aí. Ou pode chegar tarde demais e encontrar
você desiludido da vida, desconfiado, cheio de olheiras. O amor dá
meia-volta, volver. Por que o amor nunca chega na hora certa?
Agora, por exemplo, que você está de
banho tomado e camisa jeans. Agora que você está empregado, lavou o
carro e está com grana para um cinema. Agora que você pintou o
apartamento, ganhou um porta-retrato e começou a gostar de jazz.
Agora que você está com o coração às moscas e morrendo de frio.
O amor aparece quando menos se espera e
de onde menos se imagina. Você passa uma festa inteira hipnotizado
por alguém que nem lhe enxerga, e mal repara em outro alguém que só
tem olhos pra você. Ou então fica arrasado porque não foi pra
praia no final de semana. Toda a sua turma está lá, azarando-se uns
aos outros. Sentindo-se um ET perdido na cidade grande, você busca
refúgio numa locadora de vídeo, sem prever que ali mesmo, na
locadora, irá encontrar a pessoa que dará sentido a sua vida. O
amor é que nem tesourinha de unhas, nunca está onde a gente pensa.
O jeito é direcionar o radar para
norte, sul, leste e oeste. Seu amor pode estar no corredor de um
supermercado, pode estar impaciente na fila de um banco, pode estar
pechinchando numa livraria, pode estar cantarolando sozinho dentro de
um carro. Pode estar aqui mesmo, no computador, dando o maior mole. O
amor está em todos os lugares, você que não procura direito.
A primeira lição está dada: o amor é
onipresente. Agora a segunda: mas é imprevisível. Jamais espere
ouvir "eu te amo" num jantar à luz de velas, no dia dos
namorados. Ou receber flores logo após a primeira transa. O amor
odeia clichês. Você vai ouvir "eu te amo" numa
terça-feira, às quatro da tarde, depois de uma discussão, e as
flores vão chegar no dia que você tirar carteira de motorista,
depois de aprovado no teste de baliza. Idealizar é sofrer. Amar é
surpreender.
Aprender e mudar. Acho
que esses foram os verbos que guiaram minha vida até hoje. Sempre
achei que 24 anos seria o início da fase adulta, como se fosse uma
idade de passagem (aos brasileiros: piadinhas com a idade são
desnecessárias). Não sei bem o porquê, mas desde de pequeno penso
assim, apesar de ter sido uma criança que não gostava muito de me
imaginar adulto e sempre achar que isso estaria relacionado com o
trabalho (verbo chato), mas era assim que pensava, e cá estou.
Hoje, 9 de abril de 2013,
percebo que bem provavelmente estava certo. Acho que do ano passado
até hoje, houve uma mudança, para não dizer amadurecimento
(palavra que ainda me dá medo), tão intensa e profunda comigo, que
nem sei se consigo dimensionar, e no meio dessas mudanças, há um
mundo de duvidas e questionamentos que ainda precisam ser feitos e
resolvidos, mas de fato dentre eles há algumas certezas e convicções
e a que acho que mais me marcou esse ano foi há que MUDEI.
Isso, mudei. Se não
fosse minha fé e minha família, arriscaria em dizer que sou uma
pessoa completamente diferente. Em uma lógica simples acho que
aprendi e por isso fiz uma pequena lista de algumas coisas que me
fizeram crescer. Algumas tristes, MUITAS felizes e todas importantes.
Aprendi que...
Aprender é um processo
infinito;
A fé que eu tenho é
fundamental na minha vida;
Não tenho tantos amigos;
Não posso confiar tão
rapidamente nas pessoas;
Minha intensidade não é
a mesmas das outras pessoas;
Abraçar é um dom;
Não preciso de muito
para ser feliz;
Não há motivo para
guardar sentimentos, por mais que custoso que seja expressá-los;
Não tenho mais medo de
ficar velho;
A vida é curta;
Existe muita gente
hipócrita nesse mundo;
Ser calmo é melhor;
Sou capaz de mudar de
opinião;
Tenho que dar mais ouvido
a minha intuição;
Ajudar não é viver o
problema dos outros;
Ajudar não é um ato de
exímia bondade;
Nada me encanta mais do
que demonstrações verdadeiras de afeto;
Pedir ajuda não é um
sinal de fraqueza;
Gosto de pimenta;
Ainda não aprendi a
lidar com pessoas clichês demais;
Gosto de gatos e
cachorros;
Quero muito ser pai;
Ficar só é a melhor
forma de ouvir-se;
Não preciso ter tanta
pressa;
Dizer não sei pode ser
muito bom;
Não preciso ser
grosseiro;
Amo dias de sol;
Tenho coragem;
Tenho uma missão;
Posso ser mais amável;
Enfim, muitas cosias
aprendi e muitas delas estão mudando minha vida, e para terminar
esse texto trago duas músicas, uma do Arnaldo Antunes (que aprendi
que gosto muito) e outra da Sinead o'connor (que eu sempre gostei). É
isso, eu me sinto muito diferente e “não há o que lamentar quando
chega o fim do dia”, apenas nos resta é aprender e tirar boas
lições de tudo.
“Acto de abraçar, de
apertar entre os braços, geralmente em demonstração de amor,
gratidão, carinho, amizade, etc.”
Assim falou-me o dicionário, e por
isso eu digo e afirmo: nada como um abraço. Acho ele é uma simples
expressão que consegue transmitir um mundo de sentimentos. Um
simples abraço é capaz de exorcizar, trocar energias, aliviar,
aclamar, purificar e deixar as pessoas mais próximas.
Gosto de abraçar, aperto de mão é
para os fracos. O abraço é o olá perfeito e um até logo
delicioso. Basta ter o mínimo de sensibilidade para perceber e
interpretar os sentimentos que se passam entre os braços das pessoas
que gostam da gente, ou das fingem. Um abraço bem dado não engana,
nele percebe-se a sutileza do que as vezes não se quer falar.
Abraçar é parear corações,
aproximar rostos, sentir a respiração, o pulsar do coração e
quando tem o tapinha nas costas e beijinho no rosto torna-se muito
mais que perfeito.
Então é isso: abrace sem
vergonhamente, intensamente, apaixonadamente, abrace por inteiro,
como se cada abraço fosse o último. O ultimo com gosto de até
logo, e abrace na proporção das virgulas chatas desse texto chato.
No burburinho midiático de crítica ao “cristianismo” fico
tentando proteger minha fé e compreendê-la melhor. Não gosto de repercutir
discursos com os quais não concordo, mas acho que o cristianismo que é vendido –
acho que o verbo é mesmo esse: vender – hoje, não representa a genuinidade e
simplicidade do que a fé em Cristo é.
E quando penso nisso, lembro-me de um poema lindo doFernando Pessoa, que interpretado por Maria
Bethânia fica mais lindo e representa muito do que é minha fé:
Poema do Menino Jesus
Num meio-dia de fim de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.
Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
(...)
Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha
fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o Sol
E desceu no primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.
A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.
(...)
Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural.
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
(...)
A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.
A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direcção do meu olhar é o seu dedo apontado.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.
Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.
Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo o universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.
Depois eu conto-lhe histórias das coisas só dos homens
E ele sorri porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade